A vida dos novos integrantes de uma empresa não deve ser fácil.
Vindo de uma área acadêmica ou técnica, o novo colaborador foi preparado por professores com muitas aulas expositivas, mas pouquíssimas delas práticas onde leitura de artigos, monólogos do professor e pouca interatividade são comuns, quando não quase prevalentes.
A realidade organizacional brasileira com a qual se ele se deparará pouco tem a ver com os livros das bibliografias obrigatórios ou sugeridos. Tais obras, via de regra, são de autores americanos e, pouquíssimos, europeus. A questão reside na profunda diferença de condições de mercado e de infraestrutura, social e de produção, com as quais os autores estrangeiros se debruçaram para observar, refletir e compor sua obra. Uma coisa é avaliar e escrever a partir da economia americana e outra, quase diametralmente oposta, é aplicar tais conceitos nas atividades gerenciais do mercado brasileiro.
Assim, os desafios reais que o jovem se depara já embutem uma esmagadora carga tributária que reduz, substancialmente, a capacidade de investimentos seja da empresa ou de fornecedores e parceiros. Um altíssimo custo da mão-de-obra empregada com constantes problemas de ordem trabalhista e previdenciária que, da mesma forma, esvaem recursos, por vezes até de forma inesperada, da empresa obrigando a alta direção a malabarismos intempestivos frutos de uma economia irregular que surpreende empresários e cidadãos a cada dia.
Outro ponto importante neste cenário real que o colaborador e empresa se deparam é a péssima qualidade da infraestrutura de produção: estradas quase intransitáveis, irregularidade e carestia no fornecimento de energia elétrica e de meios de telecomunicações, graves problemas de mobilidade urbana e saneamento público e de limpeza urbana que se avultam a cada dia de chuva intensa e uma forte presença sindical. Todos incorrem em despesas invisíveis para as empresas cuja aplicação nos custos básicos se torna imprudente, posto que o cliente trocará o produto ou serviço dessa empresa sobrecarregada por outro fornecido por empresas que tenham bem mais competitividade por lhe ser possível em economia de escala.
Essa é nossa realidade nacional nua e crua. Sobre ela é que o novo colaborador deverá aplicar suas competências. E por falar em competências seguirei o senso comum corporativo: CHA = Conhecimento; Habilidades e Atitudes. Essa pequena fórmula conceitual servirá para acomodar minhas impressões acerca de desempenhos futuros em tempos desconfortáveis.
O elenco de informações adquiridas, avaliadas e sobre elas refletidas encontra a sedimentação que forma o Conhecimento por intermédio de vivência prática. Assim, o conteúdo apreendido nos bancos escolares precisa ser aplicado na vida prática onde o colaborador tem a oportunidade de acertar e de errar, o erro com honestidade de propósitos, em franca tentativa de acertar.
Decorre daí o impacto das diferenças entre o que se aprende da literatura estrangeira com o que nos deparamos com nossa muito peculiar idiossincrasia que faz com que muitos conceitos, entre nós, sejam relativizados. O primeiro deles seria o Compromisso: com horários, com a qualidade do serviço ou produto final apresentado e, sobretudo em nosso caso, com o pós-venda.
Ainda na perspectiva do compromisso, o colaborador perceberá que não está sozinho no universo corporativo, suas atividades operacionais e administrativas dependem de outros, daí o compromisso ser um fator-chave para um bom desempenho.
Na consecução de suas atribuições o ente corporativo depende de fornecedores, de parceiros, do feedback de clientes e de setores internos da organização onde trabalha. Ou seja, para ele trabalhar com qualidade e produtividade ele depende de outras pessoas e outros fatores, tais como a limpeza do ambiente de trabalho, o fornecimento regular de energia elétrica, de telecomunicações, da qualidade do material e suprimento a ele disponibilizado, etc. Tudo isto é atribuição de outros que lhe vem antes na estrutura gerencial que chamaria de “precedentes”, pois eles lhe precedem, vem antes. E sem o compromisso de entrega na hora aprazada e com a qualidade requerida o trabalho do colaborador terá muito problema em atingir eficiência.
Falando em habilidades, a prática ressaltou-me as de interação intersetorial, de negociação, de visão ampla do contexto e, até em certo grau, a visão prospectiva.
Já sobre a habilidade de se prospectar o futuro ressalto a de discutir e negociar os acertos e, sobretudo, os erros. Enfim, as velhas e infalíveis “lições aprendidas”.
Quanto à atitude esta requer uma constante renovação de ânimo. Procurar descobrir, diariamente, novas formas de desempenhar suas atribuições de forma eficiente sabendo, contudo, que deverá depender de um elenco de pessoas e organizações sobre as quais não terá qualquer ascendência.
Ao se deparar com tais situações busque sua criatividade, sua predisposição para a desenvolver a tentativa, o erro, nova tentativa enfim, até chegar aos acertos. Quanto mais aplicação e refinamento você empregar nesse processo mais eficiente será seu trabalho. O ganho em decorrência será um alto nível de produtividade e os líderes conscientes verão que suas conquistas se deram sob ambiente inóspito em recursos e, até, com rara boa vontade dos outros. Isso conta em seu favor. O famoso ditado “tirou leite de pedra” (quase que literalmente) lhe pertence.
Teremos, inevitavelmente, anos de restrições à frente. Serão ótimas oportunidades de se fazer a diferença em meio a dificuldades e óbices de toda sorte.
O conhecimento quanto mais profundo e abrangente for, mais segurança dará no momento de ser avaliar, apresentar alternativas de ação e decidir. Desenvolva habilidades em visão contextual e, principalmente, negociação, pois ajudará, sobremaneira, não só a você como os demais colaboradores.
Artigo do autor publicado na revista "Coaching em Revista": Ano2 Edição 07 pg 56.
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