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Foto do escritorJefferson W. Santos | Ad Astra

"Portas em automático". A saga dos invisíveis.

Atualizado: 10 de abr.






Esta frase, simples, espargida na cabine de passageiros em uma voz metálica, austera e seca é o selo de uma certificação de que a excelência reinou fora da aeronave.

Com mais de trinta anos voando 16 tipos de aeronaves diferentes, entre planadores, ultraleves, aviões e helicópteros, essa frase carrega consigo muito significado.

Só ouvi essa frase como passageiro, pois todas as aeronaves que pilotei tinham portas com travamento manual.

Passageiros, ao ouvi-la, têm sensações de alívio sabendo que o avião irá para o “pushback” e, em poucos minutos mais, estará no ar. Tristeza, ansiedade, medo, cansaço etc. são as sensações comuns entre passageiros. A minha sempre foi a de GRATIDÃO.

Com certeza, você que agora lê estas linhas, recorda da situação. Garanto que a imagem que lhe ocorre é a de luz, de iluminação natural externa, com o sol presente. Poucos lembrarão da situação sob chuva forte. Menos, ainda, da chuva no meio da noite. Quem sabe, até, com vento inclemente.

Procure retratar sua experiência envolta nesse cenário, nesse “worst case scenario”. Então, você entenderá o porquê da GRATIDÃO, pois é sinal de que você, e todos a sua volta, ESTÃO SEGUROS.

Mesmo sendo piloto já atuei, muitas vezes, no aprestamento de um avião ou de um helicóptero para decolagem na pista. Desde conferência e acomodação de cargas e de bagagens, até a conferência das condições de uso e a validade de extintores de incêndio, voltagem e integridade de cabeamento das fontes de energia externa (APU externo) para serviços de comissaria e de “start” de motores. Também conferi a segurança de escadas, mangueiras e aterramento de veículos abastecedores de combustível, de óleo hidráulico ou de oxigênio. Da mesma forma, conferi a lacração e a integridade das refeições de bordo, dentre outras muitas responsabilidades do “pessoal de pista”.

As pessoas tendem a imaginar essas atividades no “glamour” de um aeroporto bem estruturado, com “fingers” (corredores de embarque de passageiros) e o avião cercado de pequenos veículos e de pranchas de apoio. Isso tudo, normalmente, em um dia ensolarado.


Tente, agora, imaginar todo esse movimento de pessoas e de veículos em um aeroporto sem tais facilidades. Imagine escadas de passageiros “travadas” por funcionários as imobilizando sob o vento e a chuva. Imagine, ainda, funcionários se equilibrando sobre pranchas de cargas e de bagagens estendendo na horizontal toldos ou “encerados” para manter malas e pacotes secos até entrarem no compartimento de bagagem. Imagine, ainda, os auxiliares dos abastecedores segurando guarda-chuvas e a escada para o abastecedor colocar a mangueira por sobre a asa e abastecer com querosene sem a contaminação da água da chuva.

Normalmente pessoas pensam no “glamour” de aviões Boengs, Airbus ou Focker. Entretanto, também existem Caravan, KingAir, Bandeirantes dentre muitos outros tipos de aviões.

O esforço da “equipe de pista” é hercúleo. Cada um sabe o que tem a fazer e o faz com denodo e abnegação, se esforçando em ser excelente...ainda que INVISÍVEL para passageiros, tripulações e pilotos.

Quando um respeitável chefe de pista dá o “clearence” (liberação) para o piloto, encerraram-se processos distintos, mas absolutamente muito bem coordenados entre seus executores.

Quando você ouvir falar em “equipes auto gerenciáveis” procurem saber como as equipes de terra funcionam, como elas trabalham em refinada coordenação entre si.

Quando você ouvir falar em “liderança situacional” pense nos inesperados problemas fruto de mau tempo e de intempéries climáticas diversas causados nas atividades de aprestamento de uma aeronave para a decolagem. Então você entenderá o papel e a responsabilidade de um “chefe de pista”.

Por fim, quando você ouvir, outra vez, “portas em automático” você terá outro olhar para com os “invisíveis”. Então, o seu sentimento também será o de GRATIDÃO.

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